Os grandes feitos, os pequenos passos e a coexistência do ato: viver.

Ericles Vitor
2 min readFeb 28, 2023

--

É raro quando a gente para pra observar, mas estamos constantemente fazendo movimentos de vida que contrariam as coisas que nos paralisam. Nossa busca incessante pelo autoconhecimento, nossos rituais de autocuidado, as relações que priorizamos, os esforços que fazemos para mantes a vida de quem vive com a gente. Paradas do cotidiano.

Somos seres de memória e isso as vezes faz com que a gente se perca, como em um labirinto. Como quem vive com o peso do que não foi, a pressão de precisar ser e o medo de nunca conseguir chegar. O labirinto não tem norte, a gente só corre e conta com a sorte.

Minha escrita precede não só o que vivo, mas o que observo das outras existências. E isso me fez perceber que nosso processo formativo, todo esse acumulo que constitui nossa memoria e nossas marcas falhou muito em estimular nossa consciência sobre o conceito de COEXISTÊNCIA.

Essa sincronia, uma simultaneidade de como as coisas acontecem na nossa vida. Somos alegres e tristes, esperançosos que morrem de medo, amantes que temem o próprio amor, corredores que anseiam pela pausa incondenável. Somos a coexistência da coisa, tocados pela vida e mexidos pela incerteza.

Mas há uma predominância, como uma sala escura com apenas um único canhão de luz. Para onde for direcionado automaticamente revelará sombra no outro lado, essa ideia de totalidade que nos enfiaram goela a baixo é tola. E mentirosa.

Nossos grandes passos as vezes são da medida de um palmo, nossos 100% acompanham nossos altos e baixos, um dia a gente almeja conquistar o mundo e em outros a vitória está em conseguir arrumar nossa própria cama.

A vida é além, não da pra arrumar a própria vida como quem levanta atrasado da cama bate a coberta e empilha travesseiros.

Talvez pra você isso seja uma rotina;

Talvez pra você isso seja uma vitória!

E nada disso diminui o valor das coisas.

Essa é a medida do ato, essa é a essência do pequeno passo. Receitas não funcionam com gente ao oposto do rio diferente são nossas correntes. E o passo? Ainda que curto ou largo, é movimento.

A vida em seu ato é a coexistência dos fatos. Comemorar sabendo que o integral é um mito, que sentimentos são estados e que nós somos os marinheiros. Flutuantes, desbravadores, temerosos e as vezes só espectadores. Como estar no mar sem querer se molhar.

Coexistência, interagir com erros e acertos. Permitir o toque da felicidade no espaço-tempo em que a vida sem nenhuma preocupação nos empurra. Mas não se forçar a nada disso. Como um barco sem velas, vez ou outra se permitir ser levado pelo vento. Ate que um porto nos encontre, ou que um porto nos tornemos.

--

--